JONAL DA IBIAPABA VERDADEIRAMENTE IMPARCIAL

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sexta-feira, 11 de outubro de 2013

ALIENAÇÃO E CONFORMISMO, PROFESSOR RAMOS PONTES VEJA E APRENDA

ALIENAÇÃO E CONFORMISMO
GRAMSCI disse que “as massas são educadas para serem conformistas, para não lutarem nem mesmo pelos seus próprios interesses imediatos”.
Quando esteve no Brasil, à Era Colonial, Montaigne observou que os nativos brasileiros, contrariamente ao que determinava a cultura oficial portuguesa administrada pelos jesuítas, ficavam admirados e espantados ao verem uma enorme quantidade de pobres mendigando à porta de poucos tão ricos sem nenhuma revolta. O pensador francês percebeu, ainda, que duas coisas os selvagens aprendem desde a infância: valentia diante do inimigo e amizade protetora por suas mulheres. Se travam guerra – diz Montaigne – o prêmio é a glória pura, o conceito de que passam a gozar como guerreiros de coragem e nobres princípios e virtudes.
Sêneca exalta o lutador que tomba e aferrado à própria bravura, continua de joelhos, sem medo da morte que chega: “Sucumbe sem desfitar o inimigo. O olhar é firme e altaneiro, pois a morte é a vencedora, e não o adversário. Será morto, não vencido”.
Essas afirmativas não foram criadas do nada, ou de graça, pois o filósofo francês tivera um encontro com nativos brasileiros. Uma outra coisa que espantava os índios era o fato de guerreiros tão fortes obedecendo a um rei criança, quando um guerreiro poderia ser escolhido para chefe. Entenderam?!
Houve um tempo, neste País, que não se questionavam tais coisas, pois que estabelecidas por um sistema social dominante nos moldes do capitalismo importado. Era a época do AMEM.
A EDUCAÇÃO herdade pelos nossos antepassados (ou dos nossos antepassados) e que chegou até nós, infelizmente não mudou muito. Há somente frágeis indícios do enfraquecimento do longo inverno da imobilidade pensativa, que se abateu na consciência brasileira a partir da cultura lusitana trazida e imposta aos índios a ferro (a língua, os costumes, o sistema trabalhista, a religião) pelos padres jesuítas. Os AIEs – Aparelhos Ideológicos de Estado (Althusser) – igreja, família, escola, sindicatos, mídia, o esporte , a arte e até ciência, etc., desse modo, estão e estiveram sempre a serviço da estrutura de cominação capitalista, alienando pela inculcação e pelo consenso. Os nativos brasileiros, por não aceitarem a cultura do branco português, foram considerados incapazes de aprender. Por isso, rotulados, escravizados, exterminados.
Desse jeito, organizações sociais que aparentemente lutam pelos interesses das classes dominadas, de fato são aparatos de governo agindo em comunhão com o poder executivo a fim de cumprir o seu principal papel: manter a ordem da divisão de classes em prol dos seus próprios interesses, e não das classes dominadas. O pivô do controle das categorias e sua submissão perene se faz pela preservação da aparência das coisas na ordem estabelecida. Assim, conformados com o atual sistema político, econômico e de trabalho imposto pelo capitalismo, as classes produtoras sequer desconfiam de que, por trás do modelo de produção e reprodução estabelecido forças desconhecidas atuam incansavelmente por sua perpetuação.
Há, por outro lado, profissionais dessas áreas, que incoerentemente até julgam estar prestando um grande trabalho à comunidade quando, na realidade, estão defendendo, sem o saber, o patrimônio0, o interesse e a estrutura de riqueza de grupos econômicos e políticos minoritários, em cujos planos, tais intelectuais orgânicos não estão inseridos. Ao contrário, estão contribuindo para o mantimento da organicidade hegemônica responsável pelo empobrecimento da sociedade trabalhadora. Portanto, fala-se muito em nome do povo e, em seu nome, e por intermédio dele o capitalismo neo-liberal vai-se projetando nos quadros políticos superiores, no mundo empresarial, no universo fantástico do sucesso econômico, em contraste com o plebeísmo da sobrevivência de 85% da sociedade brasileira.
Quando um grupo político decide manter ou fazer parte do estruturalismo conservador de dominação – em nome do povo, pela libertação desse mesmo povo – no Município, no Estado ou no País, oferece um representante legitimado pelo próprio grupo para disputar “as próprias próximas eleições” , cujo pensamento bem se amolda e expressa a mesma estrutura política dos membros que o geraram. E o povo vai sendo excluído do governo, da participação democrática dos destinos das cidades, do Estado e do País. (Em realidade histórica, o povo nunca governou). O ritual é o mesmo da classe que consegue, sempre, se manter no poder. Os atores políticos são, necessariamente, os mesmos. O discurso ideológico é fielmente o mesmo e as coisas, pela aparência, pela alienação e pelo conformismo, permanecem igualmente as mesmas: os ricos, cada vez mais ricos e os miseráveis, cada vez mais miseráveis.
Para manter o esquema histórico e tradicionalista, o Estado conta com a significativa contribuição religiosa, que vai garantindo a obediência canina, o conformismo e a ignorância dos fieis. Conta também o Estado com a instituição da escola, que educa os alunos e os prepara para a mão-de-obra barata e subalterna na empresa. Soma ainda, do lado da mídia, com a cultura da comunicação alienante que oferece programas desvinculados dos questionamentos do quadro social. Por outro lado, a arte que expressa a cultura capitalista, nas letras musicais vazias de propostas transformadoras da juventude, que não lê os documentos da Igreja ou dos AIEs, para entendê-los e agir em prol de uma nova ordem social. Nas narrativas das novelas se dá o mesmo e, inclusive, na própria ciência e tecnologia das quais o Estado se apodera, por intermédio do capital e da legislação para, usando-as, conservar sua soberania e estrutura de poder sobre a sociedade trabalhadora. Os tribunais e as forças militares garantem a perpetuação de poder, como AEE – Aparelhos Executores de Estado. Enfim, do lado do Estado estão todas essas macro forças controladoras e opressoras como entidades de apoio à dominação, pacificação e ao conformismo das massas ajudando-o a cumprir a lei e preservar os costumes (políticos, sociais, econômicos, trabalhistas, culturais, religiosos, etc.).Nosso País, a exemplo, está vivendo em tempos diferentes. Vive imerso em eras contraditórias e distantes umas das outras: da Era Medieval à Terceira Revolução Industrial ou A Terceira Onda- de Alvin Toffler, escritor futurista norte-americano. As classes dos miseráveis, das periferias das cidades brasileiras¸ grandes e pequenas, que constituem a maioria dos municípios, passam por um estado de pobreza econômica e social insustentável, recuada há séculos no tempo, sem direito à educação de qualidade, à saúde, à alimentação e moradia, como bens de consumo básicos, sem contar o afastamento do mundo da informática, da eletrônica, da ciência... Por outro lado, um pequeno grupo de burgueses, de 15% da população nacional, concentrando 85% do PIB nacional, banqueteia-se com as maravilhas do final do século 20 e início do 21, daquilo tudo que o dinheiro pode oferecer. Tudo o que o capitalismo pode proporcionar ele, o pequeno grupo, detém em abundância. Apesar disso, não se desconfia de que as estruturas de poder, de dominação e de empobrecimento gradativo do nosso povo se projetam de modo muito sutil no discurso dos citados aparelhos de Estado e das classes dominantes. E o pior – como propõe o tema – não se detecta revolta coletiva da classe trabalhadora, assalariada. As manifestações de micro grupos sociais logo são desestruturadas por um vandalismo baderneiro, enfraquecendo o objetivo dos protestos. Os dois universos sociais distintos, convivem lado a lado, como na Era Colonial, observada por Montaigne, parecendo determinado por uma força superior. Assim como ocorria durante a dominação jesuíta e Inquisição Católica, o mesmo se dá na Era do Computador: “Deus quer assim; Deus fez o mundo assim” – doutrina de inculcação capitalista. Pergunta-se ao defensores dessa ideologia, por que Deus não quis o contrário? A ideologia dominante funciona assim, em nível de senso comum. Estamos vivendo num tempo de revisão e redefinição dos sistemas sociais impostos há milênios à sofrida humanidade, que deve acordar da sonolência crônica, da anestesia ideológica defendida por pequenos grupos econômicos e expressadas por intelectuais orgânicos inseridos no meio da sociedade para maltratá-la e empobrecê-la cada vez mais, política e conscientemente. “Não há mais beleza se não na luta”. – Propunham os futuristas do início do século passado. Assim, por mais que esses intelectuais orgânicos tentem “esconder” agora seus mecanismos de dominação, terão que esclarecer, por outro lado, por que insistem em manter o atual estágio de coisas responsáveis pelo atraso e pela infelicidade do gênero humano, enquanto atravessam os séculos tão satisfeitos com a vida. As fórmulas mágicas já não são suficientes para fazer calar as dúvidas que povoam a consciência humana do século 20 e início do século 21. Políticos indigestos, capitalistas inescrupulosos, sacerdotes antiquados, educadores obsoletos e aparelhos de repressão ideológicos ou reestruturam sua atuação a bem da coletividade, tomando uma linha dialética e progressista, ou desaparecerão nas névoas da nova ordem social que está surgindo.
O homem é o único animal que pergunta. Se de posse dessa consciência, fugirá da cultura do AMEM , para a cultura do POR QUÊ? Os furos do pano alienador tem-se rompido , e as velhas catedrais do saber medieval estão ruindo.
A nova mentalidade universal se agiganta e nela não haverá espaço para as carrancas capitalistas que escraviza o Brasil, desde o colonialismo. Atores sociais progressistas já não se preocupam com apenas o seu próprio futuro, mas com o futuro da humanidade, pela educação, pela capacidade cognitiva e pelo questionamento, pela luta de classe.

Ramos Pontes
Janeiro/Fevereiro 1995
Agosto de 2013.

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